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domingo, 25 de outubro de 2015

[Teatro] Hamlet, de Lyndsey Turner


Título: Hamlet
Local: Barbican Theatre Texto: William Shakespeare
Encenação: Lyndsey Turnet
Produção: Sonia Friedman Productions
Cenários: Es Devlin | Guarda-Roupa: Katrina Lindsay
Luz: Jane Cox | Som: Christopher Shutt | Música: Jon Hopkins
Elenco Principal: Benedict Cumberbatch, Leo Bill, Siân Brooke, Anastasia Hille, Kobna Holdbrook-Smith, Jim Norton, Ciarán Hinds
Sinopse:
Benedict Cumberbatch takes on the title role in Shakespeare’s great tragedy. Directed by Lyndsey Turner (Posh, Chimerica) and produced by Sonia Friedman Productions, the Barbican presents an exclusive twelve-week run of this compelling new production in summer 2015.

As a country arms itself for war, a family tears itself apart. Forced to avenge his father’s death but paralysed by the task ahead, Hamlet rages against the impossibility of his predicament, threatening both his sanity and the security of the state.

Opinião da Carla:
Quando não podes ir ao teatro, o teatro vem até ti. E foi o que aconteceu com Hamlet, uma produção do Barbican Theatre que foi exibido directamente para vários cinemas em todo o mundo. Para quem ir a Londres não passa de um desejo irrealizável, e o facto de poder ver ao vivo uma produção desta envergadura, contando com nomes como Benedict Cumberbatch, ser um sonho para lá do desejo inalcançável, esta foi the next best thing.

Hamlet é uma das minha peças favoritas de William Shakespeare, se bem que é um pouco cedo para dizer tal, tendo em conta que o que li/vi da obra de Shakespeare é apenas a ponta do iceberg. Ainda assim, Hamlet não deixa de estar na categoria de favorito. Já vi várias representações quer seja em teatro ou filme, cheguei até a ver uma representação portuguesa da obra. Quem não nunca viu o filme 1996 em que Kenneth Branagh deu vida a Hamlet (e também foi o seu o realizador do mesmo) e Kate Winslet incarnou Ofélia? Mas o meu favorito, de longe, é a produção de Halmet da Royal Shakespeare Company com David Tennant na personagem principal.

Mas Hamlet de Benedict Cumberbatch não ficou longe da produção de RSC. Não deixo de ficar fascinada como uma peça com 400 anos continua a ser, ainda hoje, tantas vezes representada e todas elas tão diferentes, produções completamente dispares, em que os actores, representando a mesma personagem, conseguem trazer sempre algo novo. E foi isso que Benedict Cumberbatch fez.

Não me surpreende que Cumberbatch tenha sido incrível no seu papel de Hamlet, o que me tocou foi a intensidade com que o fez. Foi apenas soberbo na sua representação, mas tenho que realçar a actriz Siân Brooke, que deu vida a Ophelia. No início transpareceu tão perfeitamente a fragilidade e a inocência desta personagem, transformando-se de tal forma num ser demente quando esta perde a lucidez, depois da morte do pai. Surpreendeu-me verdadeiramente e, para mim, foi uma dos pontos altos em termos de representação.

A produção é algo que, confesso, encheu o olho e foi das melhores coisas que vi. Primeiro que tudo, tenho que admitir, que gosto que façam ligeiras alterações (em termos de guarda-roupa, cenários, etc), modernizando a peça, mas o texto continue a ser o autêntico, misturando o antigo e o novo, o clássico e o moderno de forma extraordinária, e sem parecer fora de contexto. Ophelia passeava-se pelo palco com uma câmara fotografia nas mãos; Horatio estava coberto de tatuagens e tinha um ar hipster; Hamlet começa a peça a ouvir música num gira-discos, usa t-shirts do David Bowie e hoodies. Quanto ao cenário, este, estava incrível, eu nem sei bem como descrever o quão bem pensado e construído ele estava. Era uma sala de jantar, mas transfigurava-se de tal forma que no momento seguinte era um ponto de vigia, uma sala de reuniões, um teatro e, mais tarde, um cenário de guerra. Mas sem a luz e o som, esta peça não teria metade do impacto que teve. Jogos de luz e sombra extraordinários, uso da música, e de outros efeitos sonoros, feitos com uma precisão fantástica.

E um ponto que tenho que ressaltar é o facto deste Hamlet não só ter uma soberba produção e representações geniais, mas ser uma forma de trazer um monumento como Shakespeare a um público mais jovem. Cumberbatch consegue com a sua simples presença levar um grupo de jovens que muito possivelmente nunca iria a uma peça destas. O facto de ser uma celebridade e ter uma legião de fãs (maioria raparigas e jovens, é certo, mas não vamos generalizar) não tem que ser uma coisa má, antes pelo contrário. E qualquer fangirl que se preze (e acreditem que 99.99% dxs Sherlockians o são) sabem comportar-se e sabem apreciar o trabalho de um actor que tanto estimam e adoram sem serem infantis e ridiculxs, e também apreciar o trabalho das restantes pessoas que deram o corpo e alma a este projecto. O nome Cumberbatch pode ser um farol para chamar um público pouco natural a andar nestas coisas e isso só é um ponto incrivelmente positivo.

Gostei imenso, e adoraria ver uma produção destas ao vivo, mas quando tal coisa é impossível, uma pessoa já fica mais do que satisfeita por ter uma oportunidade destas. Obrigada National Theatre Live, Barbican Theater e El Corte Inglés por proporcionarem uma coisa destas. Foi sublime, não sendo tão incrível como a produção de RSC em termos de impacto em mim, mas certamente superior em termos de ambiente e atmosfera criada para a peça. São duas produções de Hamlet que guardo com muito carinho no meu coração.


Opinião da Joana:
A segunda coisa melhor do que ver o Hamlet, com o Benedict Cumberbatch, no Barbican Theatre, é ver o Hamlet, com o Benedict Cumberbatch nos UCI Cinemas, em directo do National Theatre. E foi isso que nós fomos ver.

Já sabem que sou uma enorme fã do Benedict Cumberbatch (não só pela sua personagem na série Sherlock) e por isso quando surgiu esta oportunidade não pensei duas vezes. Com medo que a sala esgotasse, comprámos os bilhetes online e fomos cedo para o cinema – a sala não encheu mas quase. E havia pessoas de todas as idades a assistirem, assim como ingleses que não resistiram ao encanto de Hamlet.

Esta peça de William Shakespeare é, como talvez saibam, um pouco macabra e, acima de tudo, é conhecida pelo famoso discurso de Hamlet “To be, or not to be? That is the question (…)”. Porém, para mim, esse discurso não foi o ponto alto da peça, mas antes a representação de cada um dos actores e actrizes, o poder e vida que deram às suas personagens, as diferenças que eles podem mostrar em comparação com outros actores que fizeram os mesmos papéis (não em comparação de melhor/pior mas antes de distinto e inovador) e conseguem-nos tocar de maneiras tão diferentes, foi incrível. Conseguirem mostrar as dúvidas, os medos, a dor, que a personagem sente e consegui-lo passar para o público com tanta intensidade é difícil e estes artistas fizeram-no com uma subtileza e beleza que nos prendeu do início ao fim da peça.

Gostei imenso das filmagens, da luz e dos adereços utilizados durante a peça, da maneira como foram usados pelos actores e como conseguiam fazer parte do cenário e mesmo assim tudo “gritava” pela nossa atenção.

Acho que não houve nenhuma performance que não tenha gostado, todos os actores mostraram o melhor de si, aquilo que faz deles adorados do público e uma boa escolha para estas peças de Shakespeare. Sinto que não estou a ser eloquente o suficiente ou a mostrar o suficiente o quanto gostei ou o quão maravilhosos foram os actores, mas é talvez porque me tocou mais do que consigo analisar, principalmente por escrito.

Sem dúvida, algo a repetir com outras peças que a UCI Cinemas irá passar no El Corte Inglês – obrigada aos actores e a todos os envolvidos nesta peça e transmissão worldwide, foi fantástico.




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