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quinta-feira, 19 de março de 2015

[Filme] Dans la maison, de François Ozon


Título Original: Dans la maison
Título em Português: Dentro de Casa
Realização: François Ozon
Argumento: Juan Mayorga (peça), François Ozon (argumento)
Elenco Principal: Fabrice Luchini, Vincent Schmitt e Ernst Umhauer
Ano: 2012 | Duração: 105 mins

Sinopse:
Claude Garcia, um jovem estudante de 16 anos, imiscui-se em casa de um colega de turma com intenção de observar a sua família e usá-la como inspiração para a sua escrita. Quando o ano lectivo se inicia, Germain, o professor de literatura francesa, percebe, através dos trabalhos que pede aos alunos, que aquele rapaz é possuidor de um dom raro. Apesar de introvertido e solitário, a sua personalidade cativa o professor, que considera que as obras literárias por ele criadas possuem uma força fora do comum, que vai muito além da sua idade ou maturidade. Porém, com o passar do tempo, os textos começam a revelar o seu lado "voyeurista" e perverso, com detalhes cada vez mais explícitos sobre a vida privada da família em questão. Dividido entre a decisão de o denunciar ou de o encorajar a continuar, o professor entra num perigoso jogo que porá em causa algo mais do que a sua carreira ou reputação.

Opinião:
Mais um filme que vi no âmbito de uma cadeira da faculdade. Até agora tenho tido “sorte” porque todos os filmes que tenho visto na faculdade – este ano e anos anteriores –, com a excepção de um ou outro, têm sido bastante interessantes e bons. Dans la maison é um deles.

A escolha deste filme para visualização em aula prende-se pela ligação da escrita e do cinema, coisa que neste filme é fulcral. Acompanhamos Claude Garcia, um rapaz de um estrato social baixo, prestes a desistir da escola quando o professor de Francês dá como trabalho de casa à turma escreverem uma redação sobre o fim de semana. Dentro do rol de trabalhos de casa sem-saborões, sem qualquer tentativa de fazer o quer que seja, Germain depara-se com a redação de Claude e fica tão agarrado à escrita que decide ajudar o aluno a ganhar gosto pela escrita e desenvolver o talento inerente que já possui.

A partir deste momento, começamos a seguir as aventuras de Claude na casa do amigo – objecto da escrita das suas redações – e cada folha do conto é fundido com pequenos filmes que representam aquilo que Claude escreve. Germain está tão imbuído na história de Claude que chega a roubar os testes de matemática, porque Claude disse que se o amigo não tivesse boa noite nunca mais poderia voltar à casa (Claude usara a desculpa de ser explicador de matemática de Rapha para entrar na casa do amigo e “ver como era a vida de uma família de classe média”) e era fundamental para ele conseguir escrever estar lá, estar “dentro de casa”. Claude é um voyeur dentro da casa do amigo, o Professor é também um voyeur porque quer sempre saber mais da história e até nós somos uns voyeurs porque não queremos largar nem o conto nem o filme.

A certo momento começamos a ter interferência do “fora de casa” dentro da história de Claude, com a inserção de Germain a comentar o conto mesmo dentro dos pequenos filmes que representam a escrita, algo muito à Woody Allen. Todas as críticas e sugestões de Germain são inseridas nas futuras páginas do conto, e várias vezes temos cenas repetidas que são nada mais do que reescrita de certos momentos.

É uma história divertida e cheia de peripécias engraçadas. Claude consegue prender-nos não só ao filme em si, mas ao seu conto, queremos sempre saber o que se passa e se é realidade ou ficção – coisa que nunca conseguimos ter 100% de certeza porque a certa altura aquilo que achávamos ser exterior ao conto que Claude escreve passa a fazer parte da própria história. Germain passa a ser uma personagem do próprio conto, o facto de Claude estar a escrever um conto é também objecto de escrita do mesmo conto.

No final de contas, o que é “dentro de casa” e o que é “fora de casa”? Não podemos ter certeza de nada e isso é a beleza do filme. Literatura e cinema estão intrinsecamente ligados neste filme, fazendo-nos maravilhar com o mundo da literatura e o do cinema – o poder da criatividade! Vampirização da vida para criar ficção.


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